quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um jogo de sorte

Urca, zona sul do Rio de Janeiro. Bairro nobre, bem situado, lindas paisagens. Praias, universidades, cultura, criminalidade quase não há. Lugar bom para quem tem dinheiro. Seis camaradas jovens, bem sucedidos e com grana suficiente para viver no mínimo umas duas vidas resolvem participar de um jogo de azar ou sorte dependendo do dia. Os camaradas chegaram bem vestidos, tinham a pele pálida. Entram pelas portas dos fundos do velho cassino da Urca. A mesa já estava posta e sobre ela só se via uma toalha vermelha e um revolver calibre 38, seis balas, seis rapazes, um iria morrer. Os rapazes se acomodaram sem muito conforto. Não havia necessidade de conforto, o desconforto psicológico era pior que o físico. JK foi o primeiro, pegou o resolver, sentiu o peso, não era tão pesado. Colocou uma bala, girou o tambor, encostou a arma na cabeça e puxou o gatilho “tec” foi o som que se ouviu. Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto. Colocou a arma sobre a mesa e a empurrou no sentido anti-horário. O próximo foi Bulldog que tremia e tinha o olhar psicótico. Bulldog pegou a arma, adicionou mais uma bala, girou o tambor, encostou-a na cabeça e puxou o gatilho “tec” foi o som que novamente se ouviu. Bulldog riu aliviado, com as mãos ainda tremulas colocou a arma sobre a mesa e a empurrou para Bob. Bob pegou a arma, sentiu um frio lhe subir a espinha, adicionou mais uma bala, girou o tambor e o fechou. Havia três balas no tambor do revolver e Bob pensou: “tenho cinquenta por cento de chances de escapar dessa.” Encostou o cano gelado do revolver na cabeça, sentiu todo seu corpo se arrepiar, respirou fundo, fechou os olhos e puxou o gatilho e som se repetiu “tec”, abriu os olhos, coração acelerado e suor frio. Bob respirou fundo por três vezes antes que pudesse largar a arma sobre a mesa e empurrá-la para João. João que não era o do santo cristo nem o Batista pegou a arma sem receio, sem medo, sem nada, para ele tanto fazia viver ou morrer, a vida é um risco disse ele. Adicionou a sua bala ao tambor. Eram agora um total de quatro e as chances de sair ileso eram de pouco mais de 30 por cento, girou o tambor, encostou a arma na cabeça e puxou o gatilho de uma vez, rápido, sem pensar muito no que estava fazendo. E para surpresa o som que saiu da arma foi o mesmo de outrora, aquele “tec” seco, curto, que era um alívio para alguns e a angústia para outros. João baixou a arma sobre a mesma e a passou para Jeff. Jeff foi o quinto eram 75 por cento de chances de morrer e 25 por cento de chances de viver. Nunca em sua vida tinha corrido tanto risco, nunca em sua vida tinha desejado tanto viver como naquela hora.  Pensou na família, pensou no sujeito egoísta e esnobe que tinha se tornado. Pensou nas noites de festas no Rio de Janeiro. Queria desistir do jogo, mas não podia, então pegou a arma, adicionou sua bala, girou o tambor, com relutância e muito medo, encostou a arma na cabeça e puxou o gatilho. Logo em seguida o alívio, pois mais uma vez o som que a arma proferiu foi “tec”. Jeff abaixou a arma sobre a mesa e a empurrou para Sem Sorte. Sem Sorte tremia e lagrimas escorriam pelo seu rosto, estava pálido, gélido, gaguejava ao tentar falar. Pegou a arma, abriu o tambor, contou: uma, duas, três, quatro, cinco. Pegou a sua bala, sentiu-a, observou a coloração dourada, com temor adicionou a última bala ao tambor do revolver, girou e fechou. Encostou o cano na cabeça, fechou os olhos, apertou o gatilho e gritou. No entanto a arma gritou de volta “tec”. Todos olharam perplexos, Sem Sorte estava incrédulo, atônito, zonzo e feliz, Sem Sorte teve um dia de sorte por ironia do destino a arma não quis disparar. 


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