Urca, zona sul do Rio de
Janeiro. Bairro nobre, bem situado, lindas paisagens. Praias, universidades,
cultura, criminalidade quase não há. Lugar bom para quem tem dinheiro. Seis camaradas
jovens, bem sucedidos e com grana suficiente para viver no mínimo umas duas
vidas resolvem participar de um jogo de azar ou sorte dependendo do dia. Os
camaradas chegaram bem vestidos, tinham a pele pálida. Entram pelas portas dos
fundos do velho cassino da Urca. A mesa já estava posta e sobre ela só se via
uma toalha vermelha e um revolver calibre 38, seis balas, seis rapazes, um iria
morrer. Os rapazes se acomodaram sem muito conforto. Não havia necessidade de
conforto, o desconforto psicológico era pior que o físico. JK foi o primeiro,
pegou o resolver, sentiu o peso, não era tão pesado. Colocou uma bala, girou o
tambor, encostou a arma na cabeça e puxou o gatilho “tec” foi o som que se
ouviu. Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto. Colocou a arma sobre a mesa e
a empurrou no sentido anti-horário. O próximo foi Bulldog que tremia e tinha o
olhar psicótico. Bulldog pegou a arma, adicionou mais uma bala, girou o tambor,
encostou-a na cabeça e puxou o gatilho “tec” foi o som que novamente se ouviu.
Bulldog riu aliviado, com as mãos ainda tremulas colocou a arma sobre a mesa e a
empurrou para Bob. Bob pegou a arma, sentiu um frio lhe subir a espinha,
adicionou mais uma bala, girou o tambor e o fechou. Havia três balas no tambor
do revolver e Bob pensou: “tenho cinquenta por cento de chances de escapar
dessa.” Encostou o cano gelado do revolver na cabeça, sentiu todo seu corpo se
arrepiar, respirou fundo, fechou os olhos e puxou o gatilho e som se repetiu
“tec”, abriu os olhos, coração acelerado e suor frio. Bob respirou fundo por
três vezes antes que pudesse largar a arma sobre a mesa e empurrá-la para João.
João que não era o do santo cristo nem o Batista pegou a arma sem receio, sem
medo, sem nada, para ele tanto fazia viver ou morrer, a vida é um risco disse
ele. Adicionou a sua bala ao tambor. Eram agora um total de quatro e as chances
de sair ileso eram de pouco mais de 30 por cento, girou o tambor, encostou a
arma na cabeça e puxou o gatilho de uma vez, rápido, sem pensar muito no que
estava fazendo. E para surpresa o som que saiu da arma foi o mesmo de outrora,
aquele “tec” seco, curto, que era um alívio para alguns e a angústia para
outros. João baixou a arma sobre a mesma e a passou para Jeff. Jeff foi o
quinto eram 75 por cento de chances de morrer e 25 por cento de chances de
viver. Nunca em sua vida tinha corrido tanto risco, nunca em sua vida tinha
desejado tanto viver como naquela hora.
Pensou na família, pensou no sujeito egoísta e esnobe que tinha se
tornado. Pensou nas noites de festas no Rio de Janeiro. Queria desistir do
jogo, mas não podia, então pegou a arma, adicionou sua bala, girou o tambor,
com relutância e muito medo, encostou a arma na cabeça e puxou o gatilho. Logo
em seguida o alívio, pois mais uma vez o som que a arma proferiu foi “tec”.
Jeff abaixou a arma sobre a mesa e a empurrou para Sem Sorte. Sem Sorte tremia
e lagrimas escorriam pelo seu rosto, estava pálido, gélido, gaguejava ao tentar
falar. Pegou a arma, abriu o tambor, contou: uma, duas, três, quatro, cinco.
Pegou a sua bala, sentiu-a, observou a coloração dourada, com temor adicionou a
última bala ao tambor do revolver, girou e fechou. Encostou o cano na cabeça,
fechou os olhos, apertou o gatilho e gritou. No entanto a arma gritou de volta
“tec”. Todos olharam perplexos, Sem Sorte estava incrédulo, atônito, zonzo e
feliz, Sem Sorte teve um dia de sorte por ironia do destino a arma não quis
disparar.